Astrologia

Noções de Astrologia Transviada: Aspectos clássicos com uma pitada…

Neste texto, iremos dar uma pincelada sobre os principais termos utilizados na Astrologia, primeiramente explicando os conceitos por trás da teoria dos 12 signos, que são formados por 4 elementos multiplicados por 3 modos, em seguida abordando resumidamente os planetas, as casas e os aspectos.

Esperamos que, com base neste guia sucinto, cada pessoa possa analisar de forma inicial os mapas astrais do nascimento de amigues, o seu próprio mapa astral, e também os mapas de dias e horas específicas, para planejar seus rituais e entender as energias regentes. Mais do que isso, esperamos trazer dicas para que cada pessoa se desprenda dos conceitos mais tradicionalistas da astrologia, possa TRANS-cender e criar novos caminhos.

Os Elementos na Astrologia

Para compreender os elementos, podemos pensar em suas manifestações tanto na natureza como um todo, quando na nossa vida. Pensar em fogo é realmente lembrar de uma fogueira aconchegante, do calor de um dia de sol, e também pensar em erupções vulcânicas. Pensar em água é pensar num rio, numa chuva boa, numa tempestade, numa onda ou lagoa. Pensar em ar é brisa fresca, ventania, vendaval. Pensar em terra é pensar em abundância, mata, pedra, árvore, e daí em diante. Os elementos também podem ser compreendidos dentro de outros sistemas simbólicos, como no caso do tarô. Estes quatro elementos atribuem características às nossas personalidades, servem como a base mais embrutecida no entendimento simbólico dos signos e seus arquétipos; onde os signos de fogo se parecem entre si ao compartilharem características semelhantes ao calor.

Os elementos são os primeiros mergulhos de compreensão simbólica que devemos realizar. Acender uma fogueira e dançar, para entender o fogo; plantar e colher, ou mesmo cozinhar com verduras e frutas, para entender a terra; mergulhar num rio, tomar um banho de chuva, pra entender a água; ir para algum lugar com o vento mais forte, deixar os cabelos ao vento, escutar o barulho de uma ventania e o som da natureza se arrastando com sua força; para entender o ar. Além dos processos de conexão com essas forças, também perceber como em diferentes contos e narrativas, podemos mapear a presença desses elementos: desde personagens ficcionais à divindades, e perceber as semelhanças entre personagens / criaturas / entidades conectadas às águas, ao fogo, ao vento.

Claro que, pensando mitologicamente, devemos sempre ter muito cuidado ao associar divindades de culturas e panteões diferentes (e não cair em erros anacrônicos ou eurocêntricos); mas acredito na manifestação dos quatro elementos enquanto potências visíveis em muitos sistemas simbólicos (embora encontremos outras divisões elementais, como no caso do BaZi, que conhecemos como Astrologia Chinesa, onde os elementos são cinco: terra, madeira, fogo, metal e água.)

No tarô, os quatro naipes falam sobre jornadas diferentes, cada uma representada por um elemento. O Naipe de Paus fala de coragem, de uma jornada heroica, de descoberta dos dons e dos propósitos, de mudanças e viagens, de batalhas e reencontro com o próprio poder, de inspiração criativa; o naipe de paus ou bastões é associado ao elemento Fogo. Já o Naipe de Copas fala de amor, transbordamento, união, família, apego, sentimento, nostalgia, transcendência e tudo que parte do coração; este naipe é um naipe de Água. O Naipe de Espadas fala da razão, do poder e das armadilhas da mente, de raciocínio, mudança de paradigmas, contradições, diálogos, comunicação, mentiras e sinceridade; este é um naipe de Ar. Já o Naipe de Ouros fala de trabalho, abundância, fertilidade, realização, concretização, lapidação dos talentos, materialidade e ciclos de prosperidade e escassez; este é o Naipe de Terra. Os elementos dentro do Tarô estão completamente alinhados com seus significados simbólicos na Astrologia, o que facilita muito o aprendizado de um tarólogo no processo de aprender astrologia e vice-versa.

De maneira resumida, podemos dizer que:

Fogo rege os reinos da impulsividade, criatividade, expansão, força, energia, coragem, liderança, autonomia, violência, paixão;

Terra está sintonizada com os reinos da sobriedade, estabilidade, lógica, materialismo, sensualidade, sensorialidade, praticidade, análise, trabalho;

Ar reina sobre as ideias, intelectualidade, ideologias, grupos, comunicação, mutabilidade, jogos, leveza, relações, comunidade, liberdade, adaptabilidade;

Água simboliza e representa os sentimentos, intuição, espiritualidade, imaginação, fuga da realidade, transformação, empatia, sonhos, amor, emoção.

Os signos de Fogo são:

  • o corajoso/impaciente Áries;
  • o carismático/egocêntrico Leão;
  • o otimista/fanático Sagitário.

Os signos de Terra são:

  • o perseverante/teimoso Touro;
  • o prestativo/crítico Virgem;
  • o responsável/rigoroso Capricórnio.

Os signos de Ar são:

  • o intelectual/superficial Gêmeos;
  • o equilibrado/indeciso Libra;
  • o revolucionário/frio Aquário.

Os signos de Água são:

  • o acolhedor/carente Câncer;
  • o transformador/obsessivo Escorpião;
  • o espiritualizado/disperso Peixes.

Os Modos na Astrologia

Os Modos na Astrologia são três: Cardinal, Fixo e Mutável; e eles estão relacionados com o passar das estações do ano. Os signos cardinais são todos aqueles que se localizam no início de uma estação, logo após solstícios e equinócios. Os fixos são aqueles que se localizam no “meio” de uma estação, que não passam pela “transição” de uma estação em outra, mas acontecem no auge de cada uma delas. Os mutáveis são aqueles que precedem os solstícios e equinócios e, logo, são aqueles que “terminam” estações e pegam o momento de transição.

Os signos cardinais são dinâmicos, ótimos iniciadores/criadores. Projetam, conquistam, tomam a ação. Impulsivos e excitados. São bons líderes, dinâmicos e cheios de iniciativa. Áries, cardinal de fogo, toma iniciativas de conquista, busca sua autonomia, lidera, se posiciona à frente, realiza todos seus desejos e sonhos, supera os seus desafios. Câncer, cardinal de água, toma iniciativas no campo das emoções, lidando com elas, entendendo-as, cultivando-as, transmitindo-as, acolhendo e nutrindo o mundo (familiar) a sua volta. Libra, cardinal de ar, toma iniciativa nas relações, formando redes, parcerias, harmonizando os grupos, criando novas ideias para mediar os interesses de suas parcerias, possui iniciativa criativa no campo dos relacionamentos e das artes, e Capricórnio, cardinal de terra, é ambicioso, inicia projetos, trabalhos, busca seu lugar no mundo, estabilidade, estratégia, ele planeja e executa.

Os signos fixos são estáveis, teimosos, persistentes, lidam bem com continuidade do que está feito, de processos já iniciados; não desistem fácil de seus objetivos, são obstinados e constantes, confiáveis. Touro, a terra fixa, é ótimo em lidar com a estrutura, ampliando-a, conservando-a, além de seguir seus objetivos com calma e perseverança. Leão, como fogo fixo, é capaz de se manter ardente num ponto de vista, numa ideia, na sua jornada; além de sua generosidade, criatividade e ânimo quase inesgotáveis. Escorpião, a água fixa, lida com sua profundidade de forma intensa, quase imutável, permanece e resiste mesmo nos momentos dificeis e Aquário, o ar fixo, é constante no campo das ideias, nos coletivos, no desejo de alçar vôo, de trazer o futuro para o presente. Os signos fixos são os que se transformam de maneira mais drástica — já que a mutabilidade não é algo fácil para eles.

Os signos mutáveis são versáteis, adaptáveis, maleáveis, flexíveis e inconstantes. Gemêos, o ar mutável, muda de ideia o tempo todo, se adapta a novos ambientes e rotinas (mas odeiam rotinas fixas), não tem medo das mudanças que a vida lança; Virgem, a terra mutável, é prática e perfeccionista, adapta-se para sempre encontrar uma melhor versão de si mesma; Sagitário, o fogo mutável, encontra e reencontra suas convicções e paixões de maneira fugaz, busca constante movimento na sua jornada para encontrar sentido na existência humana, e peixes, a água mutável, é capaz de se colocar no lugar de qualquer pessoa com sua empatia, e experimentar diferentes sensações e emoções advindas de sua entrega e alteridade, sua imaginação fluída também encontra e inventa mundos infinitos.

Os Signos

Os signos são símbolos ricos em características e possibilidades, de forma que falar sobre eles poderia dar um livro inteiro! Segue, abaixo, um breve resumo com suas principais características. Mas para além dessas “palavras-chave” e de todos os estereótipos que podemos encontrar hoje em dia, os signos são complexos e abraçam suas próprias contrariedades. E também, lembrem-se: temos todos os signos presentes em nosso mapa astral.

As características de cada signo, podem estar balanceadas ou desmedidas. De forma que quando falamos “não gosto de tal signo”, provavelmente temos dificuldade de lidar com as características não bem dosadas dele, e não dele como um todo. Muitas vezes, os “defeitos” de cada signo, são apenas desdobramentos de suas qualidades. Exemplo: auto-confiança é uma potência, mas em excesso, pode se transformar em arrogância, e se estiver mal trabalhada, vira insegurança.

Nesse sentido, uma pessoa que tenha elementos fortes de leão pode se balancear completamente em si, sendo confiante e completamente contagiante em sua luz. Já leonines quando desconectades de si mesmes, tendem a duvidar tanto de si que mascaram suas inseguranças com exagero de confiança, tornando-se arrogantes. Capricórnio apresenta responsabilidade que, em excesso, pode virar rigidez. Peixes apresenta empatia que, sem limites, vira sacrifício e martirização. Sagitário mostra otimismo que, em excesso, vira fé fanática; e por aí vai.

E quando os signos operam na falta, como acontece com qualquer pessoa hoje na sociedade capitalista que aprende que a falta é a geradora do desejo, seus principais traços positivos se tornam ausentes: cancerianes que se apegam demais a própria dor e deixam de nutrir us outres, virginianes que deixam de cuidar de sua saúde e de seu ambiente por falta de sentido na vida, librianes que deixam de acreditar na potência das relações e se isolam do mundo, geminianes que se sentem burros e deixam de compartilhar o que pensam com as pessoas, assim como deixam de se interessar pelo que é novo, aquarianes que percebem o coletivo sendo completamente retrógrado e então passam a pensar apenas em si mesmes e nas suas próprias individualidade e etc. Portanto, notem que tentei selecionar mais palavras positivas para representar cada signo, e também notem como os “defeitos” são completamente relacionáveis às “potências” de cada um:

Áries

Elemento: Fogo / Modo: Cardinal / Regente: Marte

Características: Impulsiva, conquistadora, pioneira, líder, corajosa, calorosa, vivaz, independente, irritadiça, ousada, autônoma, forte, violenta, egoísta;

Touro

Elemento: Terra / Modo: Fixo / Regente: Vênus

Características: Tolerante, sensual, artística, preguiçosa, gulosa, econômica, prática, elegante, paciente, perseverante, charmosa, leal, teimosa, possessiva, confiável;

Gêmeos

Elemento: Ar / Modo: Mutável / Regente: Mercúrio

Características: Intelectual, comunicativa, superficial, volúvel, instável, nervosa, multifacetada, sagaz, curiosa, adaptável, fofoqueira, interessada, ágil, versátil, interessante;

Câncer

Elemento: Água / Modo: Cardinal / Regente: Lua

Características: Intuitiva, protetora, carinhosa, melindrosa, sensível, emotiva, introspecttiva, influenciável energeticamente, empática, acolhedora, olhar atento, madura emocionalmente, nutritiva, carente, rancorosa;

Leão

Elemento:Fogo / Modo: Fixo / Regente: Sol

Características: Vaidosa, orgulhosa, animada, generosa, romântica, dramática, egocêntrica, resistente, majestosa, insegura, criativa, cheia de vida, indestrutível, engraçada, magnética, arrogante, egóica;

Virgem

Elemento: Terra / Modo: Mutável / Regente: Mercúrio

Características: Prática, analítica, criteriosa, crítica, rabugenta, perfeccionista, cobra-se demais, intelectual, inteligente, preocupada com a saúde, carinhosa, pontual, prestativa, humilde, simples, honesta, tímida, cri-cri;

Libra

Elemento: Ar / Modo: Cardinal / Regente: Vênus

Características: Artística, leve, charmosa, indecisa, evita conflito a qualquer custo, equilibrada, justa, silenciosa, estilosa, comunicativa, cordial, harmônica, pacificadora, temperada, sensata, sedutora, apaziguadora, sonsa;

Escorpião

Elemento: Água / Modo: Fixo / Regente: Marte e Plutão (Plutão atribuído pela astrologia moderna)

Características: Intensa, misteriosa, sedutora, sexual, transformadora, manipuladora, vingativa, cirúrgica, fortaleza, poderosa, influenciadora, destemida, profunda, vê além das aparências, amável, persecutória e desconfiada;

Sagitário

Elemento: Fogo / Modo: Mutável / Regente: Júpiter

Características: Aventureira, brincalhona, otimista, fanática, estudiosa, sábia, explosiva, sonhadora, esperta, livre, busca respostas e experiências, filósofa, desapegada, apaixonada pela vida, radical, “dona da verdade”, intolerante;

Capricórnio

Elemento: Terra / Modo: Cardinal / Regente: Saturno

Características: Trabalhadora, disciplinada, materialista, ambiciosa, determinada, rígida, controladora, estável, sóbria, prática, responsável, racional, olhar atento, madura, humor sarcástico (mas muito engraçada), pronta e preparada, pessimista;

Aquário

Elemento: Ar / Modo: Fixo / Regente: Saturno e Urano (Urano pela astrologia moderna)

Características: Inovadora, revolucionária, rebelde, livre, idealista, fria, não lida bem com sentimentalismo, individualista, cabeça-dura, ótimo senso comunitário, comunicativa e perceptiva, ousada, excêntrica, excelente amiga, a frente do tempo, implicante;

Peixes

Elemento: Água / Modo: Mutável / Regente: Júpíter e Netuno (Netuno pela astrologia moderna)

Características: espiritual, mística, escapista, apaixonada, chorona, alegre, empática, artística, sintonizada com o cosmos, perdida, atrapalhada, mártir, amorosa, talentosa, multifacetada, fantasiosa e impossível não amar, vitimista e viciada (em qualquer coisa, vicia fácil).

Resumo dos Planetas

Antigamente chamava-se “planeta” todo corpo que parecia se mover nos céus, em oposição às estrelas distantes que pareciam estar paradas. Hoje sabe-se que é apenas uma questão de distância relativa da Terra que causa esse efeito visual, e que o Sol é uma estrela, enquanto a Lua é um satélite natural. Plutão foi descoberto e se tornou planeta, mas depois foi classificado como planeta-anão. De qualquer forma, aqui serão abordados os planetas na sua concepção astrológica tradicional, com a inclusão de alguns corpos celestes modernos.

Sol

Representa nossa busca pela nossa identidade, nos mostra o que alimenta a nossa alma e nos dá vida, ele nos traz a sensação de saber quem realmente somos. Análogo à própria jornada do herói, que nos faz descobrir nossos potenciais, enfrentar desafios, nos distanciarmos para então retornar às nossas origens. “Protagonista” do nosso mapa, que nos atribui a sensação de “escolhide”. Representa também nossa potência criativa, a busca pelo nosso lugar na sociedade, e o desejo de proteger e expandir o nosso próprio mundo.

Lua

Indica nossa busca por proteção e segurança. A Lua fala dos nossos sentimentos e humores, nossas emoções, o que faz nosso coração pulsar. A Lua indica como nutrimos nossos amores, mas também como gostaríamos de ser nutrides. Acessa os reinos dos mistérios, é a porta de entrada para aquilo que não entendemos, racionalmente, em nós. Mostra como nos relacionamos em família, e como damos ouvido a nossa intuição, à nossa magia, e, também, aos nossos instintos.

Marte

Energia de ação, mostra como agimos por impulso, como respondemos à violência ou mesmo à frustração de não ter nossos desejos realizados. Marte é nossa força de vencer na vida, de conquistar espaços, e até de “destruir inimigos”. Representa como colocamos nossa intenção em ação no mundo, como conduzimos as situações a partir de nossos quereres, e como lutamos pelo que acreditamos, e por nós mesmes.

Mercúrio

Indica como aprendemos aquilo que nos passam, como assimilamos e transmitimos informaçôes ao mundo à nossa volta, como nos comunicamos com esse mesmo mundo, e também representa tudo aquilo que desperta a nossa curiosidade, a nossa vontade de aprender. Mercúrio representa nossos questionamentos, indagações, e nossa sede de conhecimento, para então poder moldar a realidade à nossa volta.

Júpiter

Planeta da expansão e da boa sorte, nos indica àquilo que realizamos com maior facilidade, àquilo que temos como potência intrínseca, um assunto no qual somos reis e rainhas. Júpiter é também o planeta que indica nossa ética e/ou filosofia de vida, os saberes que buscamos para orientar a nossa visão de realidade, já que representa a expansão sem limites das nossas capacidades humanas de pensar, dialogar, cocriar. Mostra também onde mora o nosso otimismo.

Vênus

Indica o que desperta o nosso desejo, e como seduzimos quem nós desejamos, ou como seduzimos os detentores daquilo que desejamos. Revela como sentimos prazer, e como agimos quando nos apaixonamos. Indica também nossa relação com o dinheiro e com a nossa beleza, e com a nossa apreciação estética pelo mundo! Vênus indica como fazemos acordos em vez de guerra, nos momentos que estamos lidando com nossos interesses e com os nossos amores. Fala sobre nossas relações passionais, eróticas e românticas, mas não é, necessariamente, indicativo de casamento. Ela indica sim pessoas que nos atraem, no entanto o casamento nã é o único fim possível para uma paixão. Essa crença é advinda tanto da monogamia quanto do binarismo. Se tem algo que podemos observar nas deusas que foram relacionadas ao planeta, como Afrodite e Inanna, é que elas nunca se limitaram a um companheiro só pelo resto da vida. Afrodite, embora casada com Hefestos, viveu uma gama de relações extraconjugais. Inanna, embora tivesse uma duradoura relação com Dumuzid, também aparece cortejando e se envolvendo com demais divindades e figuras.

Saturno

Planeta da dureza e da dedicação, nos indica àquilo que realizamos apenas com esforço, e também os assuntos onde acabamos sendo duros demais, e constantemente castrados (mesmo que sejamos nós mesmes nos castrando). Saturno também indica onde nós trabalhamos duro, o que nos dedicamos a realizar com maestria, e aquele lembrete de sobriedade quando fugimos demais da realidade.

Planetas Modernos e demais pontos contemporâneos

Urano foi “descoberto” em 13 de março de 1781. Netuno foi “descoberto” em 23 de setembro de 1846. Plutão foi “descoberto” em 18 de fevereiro de 1930. Mesmo com essas datas oficiais, a influência gravitacional destes corpos celestes era conhecida desde antes, e a sua entrada na astrologia moderna se deu de forma gradual, acontecendo um pouco depois. Além disso, temos outros corpos celestes que foram fazendo seu caminho para dentro da astrologia, e podem trazer informações interessantes.

Urano

Como representação do céu, indica aquilo que está distante para nós, que nós olhamos e admiramos, o local que nos cobre todas as noites, e de onde lemos as estrelas. O fato de Urano ter sido descoberto com a tecnologia do século XVIII, rompendo os paradigmas de que Saturno era o último plaenta em nosso sistema solar; acaba tendo bastante importância para o seu significado de planeta da tecnologia, e de planeta do futuro. Ele também foi descoberto no século da Revolução Industrial, que mudou para sempre a nossa relação com o mundo. Com a Revolução Industrial, as cidades começaram a ficar hiperpopulosas, e novas demandas começaram a aparecer. A Tecnologia pós-urano nos permite viajar e conhecer outros lugares do mundo, possibilita inclusive a internet, que nos faz conhecer pessoas de lugares variados. Urano borra fronteiras e aproxima pessoas, Urano pensa no que é o inalcançável, pensa sempre no futuro e no que podemos realizar, e gosta de romper com padrões de conservação. Desta forma, Urano está também associado à tudo que é fora do padrão, que é excêntrico, que é revolucionário. Lembrando que nem sempre tecnologias ancestrais são “piores”, então Urano não representa somente um futuro ideal e um progresso, e sim o corte com as tradições; e estas, nem sempre, são ruins ou retrógradas. Portanto, Urano representa tanto os sonhadores revolucionários e visionários, quanto os rebeldes sem causa.

Netuno

Assim como Urano, seus aspectos na astrologia são mais recentes. A utilização de Netuno na Astrologia leva mais em conta a relação do deus romano com o mar e sua simbologia, do que com mitos ou sua personalidade especificamente. Quando Netuno foi descoberto, a crença de que podemos nos comunicar com os espíritos ganhou mais entusiastas, assim como durante o séxulo XIX, tivemos muitas sociedades secretas e pessoas se dedicando ao estudo da metafísica, do esoterismo e do ocultismo. O simbolismo, na literatura, ganha poder. Movimentos antiescravagistas também ganham bastante força no séxulo XIX, em diferentes países do mundo. As correntes transcendentalistas se fortalecem. Netuno está associado à todas essas temáticas: a empatia, a crença no mundo sagrado, a conexão com outros seres. Netuno é o mar que conecta todas as pessoas, e ao mesmo tempo, é a força invisível que nos conecta a forças maiores. Netuno é o planeta que nos faz acreditar ou perceber o invisível, o que por vezes é espiritualidade, por vezes é enganação, ilusão, vício.

Plutão

Plutão segue os planetas anteriores, na relação com seus significados, mas dos três é o que mais encontra significados com o mito da divindade. Assim como Plutão é o deus do mundo dos mortos, Plutão fala de morte. Plutão, descoberto na época que se construíam bombas nucleares, mas também descoberto no século que nossa expectativa de vida praticamente duplicou, é o planeta que tem a potência de aniquilar, e também de fazer renascer. Plutão fala de tudo aquilo que mora nas profundezas da gente, incluindo nossas riquezas. Ou seja, fala de tudo o que escondemos em nossos porões internos, o que vive em nossa sombra, nosso inconsciente. E fala também de desejos ocultos, poderes ocultos, qualidades esquecidas, que se transformam em riquezas interiores. Por reinar sobre a morte, Plutão também fala de nossos medos. E por ser um planeta geracional, ele fala de medos coletivos, fala também das nossas fobias, dos nossos tabus, do que é perigoso. Onde existe medo, existe poder. E Plutão lida com o Poder. Tanto o poder de superar nossos medos, quanto o poder de controlar outras pessoas através do medo. Plutão também fala quem, em nome do medo, comete atrocidades. O planeta fala de de tudo o que é difícil de debater, de assuntos que geram transformação, que são difíceis de engolir, fala dos nossos tabus, e daquilo que não queremos lembrar. Mas todas as vezes que ignoramos os seus temas, vivemos uma vida enviesada, estamos aptos ao controle e à manipulação.

Ceres

Planeta-anão que representa nosso retorno à terra, nossa percepção enquanto bicho (somos animais mamíferos, pasmem!), algo que nos foi tirado pelo “mundo civilizado”, pelos grandes empresários que seguem vendo riqueza individual onde existe abundância de vida — inclusive diversas comunidades originárias resistindo para proteger suas terras e vidas. Ceres, intermédio entre a Lua, como nós nutrimos e somos nutrides, e Netuno, a espiritualidade, é o ponto astrológico que nos lembra a sacralidade da terra, e nos convida a uma vida mais simbiótica e não de exploração com a natureza. Nos convida a ver como existe abundância e riqueza na natureza, fartura o suficiente para nos nutrir.

Quíron

Asteróide com uma órbita excêntrica, entre os planetas Saturno e Urano. Quíron representa tanto feridas ancestrais que nos acompanham, como o unguento necessário para curá-las. Quíron representa uma ferida que nos toma sem motivo, seja uma ferida em nossa família, história de antepassados, ou mesmo em nós enquanto espécie humana. Indica algo que não pode ser curado tão facilmente, mas nos indica dois caminhos: a busca pela morte isolado em caverna aceitando a dureza da realidade, e a beleza da mortalidade (revelando sua proximidade com Saturno); ou, então, reconhecer nossa natureza humana, que nos coloca em conexão a pares como nós (revelando sua proximidade com Urano), em organizações mais coletivas, e reconhecer, de maneira empática, a dor do outro, por reconhecê-lo da mesma espécie que nós, como um semelhante. E é nesse aspecto que Quíron se transforma de ferido em curandeiro: a ferida não deixa de existir, mas ao ser compartilhada, soluções coletivas passam a ser buscadas; ou aprendendo a acolher/curar o que tem no outro, alivia-se a dor que se sente só.

Lilith

Apogeu lunar, ponto controverso, rainha demoníaca, depravação! Lilith representa nossa disruptividade, todos os nossos desejos, sonhos e medos pessoais que desafiam o status quo e a norma hegemônica. Lilith é nosso desejo assassino, amaldiçoador, obsceno e feiticeiro. Não representa necessariamente “tudo o que há de ruim”, mas uma sabedoria perigosa para o poder dominante. Lilith é “revolta do oprimido”, é “frieza revolucionária”, onde a misericórdia não se mostra diante de alguém que nos viola. Em Lilith moram nossos desejos e vontades que, de alguma forma, são castigados pela moral dominante. Energia subversiva, que quando abraçada, traz transformações inimagináveis pra vida da pessoa. Rege práticas sexuais tidas enquanto “fetiche” pela contemporaneidade. Se à Vênus é atribuído o erotismo, é com Lilith que vive a “putaria”. Ambas não são antagônicas, e ambas são castigadas pela moral dominante. Mas enquanto Vênus consegue se conduzir mais palatável à modernidade, Lilith representa todas as práticas sexuais que não são facilmente digeridas pelo status quo.

Resumo das Casas

As casas representam campos da nossa vida individual (principalmente casas 1 a 6) e coletiva (principalmente casas 7 a 12), sendo regidas pelos 12 signos, o que pode nos ajudar a lembrar dos seus significados.

1ª Casa (Ascendente) — A personalidade individual

Juntamente com o sol e a lua, o ascendente é um dos fatores mais importantes num mapa. O signo na cúspide da primeira casa diz bastante sobre a personalidade e o temperamento de uma pessoa. Mostra como nos apresentamos ao mundo, como desejamos ser vistos diariamente. O planeta que rege este signo é considerado o regente do mapa, e trata-se de um planeta muito importante no mapa do indivíduo.

2ª Casa — Valores e Posses

A segunda casa e os planetas que nela habitarem vão nos falar de como construímos nossos valores e nossa relação com o mundo material: nossas posses, finanças, bens e tudo o que valorizamos.

3ª Casa — Comunicação

A terceira casa e todos os planetas que a ocupam falam da forma como nos comunicamos na vida diária/cotidiana. Fala também de trocas intelectuais do dia-a-dia, disseminação de informções e nossas relações mais próximas em nossas rotinas: vizinhos, irmãos, seguidores nas redes sociais etc. Tem a ver com comunicação em geral.

4ª Casa (Fundo do Céu) — Raízes e Intimidade

Esta casa descreve a nossa origem, a casa da família e as circunstâncias que influenciam a infância e a juventude — além da construção do “eu”. Descreve como nos relacionamos com a “família”, a nossa atitude para com “o lar”. Podemos daqui obter a relação do indivíduo com seus genitores ou aquelus que o criaram. Mostra também nosso local de origem e os locais aonde nos enraizamos. Valoriza a nossa intimidade — é como uma base/estrutura de nós mesmes, é o fundo de nossa alma, nosso local secreto, a sala de meditação interna.

5ª Casa — Prazer e Criatividade

Esta é a casa do prazer e erotismo, mas também da vontade de brincar/jogar e de se expressar, seja passionalmente ou artisticamente (ou ambos). Esta casa também descreve como nos relacionamos com as crianças, com o prazer e o divertimento, e com o que criamos em geral — por isso muitas vezes é atribuída à casa dos filhes e da nossa relação com elus (caso um dia tenhamos filhes).

6ª Casa — Serviços e Rotina

A sexta casa descreve as circunstâncias que nos rodeiam na nossa vida diária, incluindo o ambiente de trabalho e a rotina. Isto inclui o nosso comportamento para com os colegas de trabalho e o espaço de serviços. A higiene e a saúde física também são representadas por essa casa (assim como as doenças), assim como nossos hábitos em relação ao nosso corpo (alimentação, sono, cuidado, etc). Tem a ver com pequenos serviços, mesmo os domésticos, com a organização do espaço a nossa volta.

7ª Casa (Descendente) — Relações Um a Um

O signo descendente e os planetas que ocupam a sétima casa dizem-nos como selecionamos nossas parcerias e descreve as associações e relações que procuramos e investimos. Como é o oposto da casa do “eu”, esta casa tem a ver com a nossa complementariedade, com namorades, esposes, parceires, melhores amigues, colegas escolhidos para trabalho e investimentos. Como é uma casa que rege as relações um a um, também pode indicar inimigos declarados e rivais. O que precisamos para integrarmos à nossa personalidade através das relações? O que eu tenho em mim que só vejo em relação com o outro, através do outro?

8ª Casa — Oculto e Valores Alheios

A oitava casa mostra como nos relacionamos com os bens comuns e como lidamos com as perdas materiais. Os impostos que pagamos todos os anos são um bom exemplo disto e mostra como estas áreas estão estreitamente ligadas. Como é oposta a casa 2, das nossas posses, indica muitas vezes as posses de conjugês, familiares e parceires próximos. Também é uma casa de tabus, pois mostra como nos relacionamos com “outro valores” (em vez dos nossos), os tabus, aquilo que não é falado, a sombra, aquilo que é colocado no lugar de “outridade”. Como é uma casa de perda material, tem relação com a morte e com medos.

9ª Casa — Ideologia e Países distantes

A nona casa descreve nossas filosofias, ideologias e religiões. Tem a ver com a busca de significados e com viagens longas — seja do espírito em busca de um caminho a seguir, ou viagens físicas em busca do estrangeiro, de um novo horizonte. Esta casa rege os ensinamentos profundos e as outras culturas que não a nossa — outros países, por exemplo. É uma casa de transmissão de conhecimento também, mas diferente de sua oposta 3 — que lida com o cotidiano — aqui temos o ensinamento como caminho de vida: gurus, mestras, professoras. É aonde ou como queremos expandir a nossa consciência.

10ª Casa (Meio do Céu) — Trabalho e Chamamento/Vocação

Esta casa é de particular importância, mostra o posicionamento do Sol de Meio dia no nosso mapa. É nossa imagem pública, como nos projetamos perante a sociedade, quem nos tornamos publicamente, enquanto indivíduos parte de um todo. Indica o que queremos buscar materialmente nesse mundo, concretamente. É relacionada à nossa vocação e ao nosso trabalho, como expressão do que queremos concretizar no mundo — o trabalho aqui entendido como “ação social” — qual é sua marca no mundo? Qual sua contribuição para a sociedade?

11ª Casa — Amigos/Coletivos e Futuro

A décima primeira casa mostra como nos relacionamos com os amigos e quaisquer coletivos que façamos parte. Também nos mostra a nós nesse papel. Esta casa mostra como nos relacionamos com a sociedade em que vivemos, como nos relacionamos com as outras pessoas e nos entendemos como parte do todo — o que pode nos mover para a transgressão e a revolução, buscando a igualdade e a liberdade de todas e todes. Uma casa que se projeta para a comunhão e para o futuro, buscando o caminho oposto do ego.

12ª Casa — Reunião com o Cosmos e Dissolução do Ego.

Esta casa representa aquelas esferas da vida aonde o indivíduo já não representa um papel, onde nós recuamos para um enorme buraco ou nos deixamos cair nele. A astrologia tradicional vê os hospitais, prisões e instituições psiquiátricas nesta casa. Está também associada a mosteiros e outros retiros. Trata-se da casa da dissolução do ego, aonde nos entregamos ao todo. Representa a reconexão com o todo e nosso inconsciente — por isso as energias planetárias encontradas nesta casa podem demorar para se manifestar. Se a casa onze fala da união com outras pessoas, esta casa fala da união com o “cosmos”(ou como preferir chamar: Deus, Deusa, Deisy etc). É uma casa de reclusão, ela antecede a desmaterialização do ser.

Aspectos

Os aspectos nos mostram como os planetas e outros pontos se relacionam entre si a partir de sua distância em graus no mapa analisado.

Conjunção

Quando os planetas estão próximos no mapa. Normalmente considera-se conjunção quando os planetas estão de 0 a 7 graus de distância (9 caso um dos envolvidos seja Sol ou Lua). Aqui as duas energias se manifestam juntas, ao mesmo tempo, dependentes uma da outra — isso pode desde potencializar estas energias como deixá-las difusas, confusas — sempre depende dos dois (ou mais) astros que fazem este aspecto.

Sêxtil

O Sêxtil é quando os planetas se encontram a cerca de 60 graus um do outro (com uma margem permitida de 5 graus). Trata-se de um aspecto harmonioso já que, de maneira geral, envolve signos de natureza relativamente similar (Os signos de água e terra são considerados receptivos, os de fogo e ar ativos. O sêxtil normalmente envolve signos de água com de terra, ou de fogo com de ar). Ele indica leveza e harmonia entre as energias planetárias envolvidas.

Quadratura

Ângulo de 90 graus (com margem permitida de 7 graus). É um ângulo tenso que indica um bloqueio, já que indica signos, geralmente, de mesma qualidade/modo. Um planeta num signo cardinal por exemplo inicia algo em uma área da vida. Quando outro planeta se encontra também em signo cardinal pode estar formando uma quadratura — e essa pessoa inicia algo em outra área da vida. Portanto existe um conflito entre essas duas áreas, como se ambas não pudessem “iniciar/ receber impulsos” ao mesmo tempo. A integração sempre será como buscamos conciliar as forças das duas áreas da vida envolvida.

Trígono

Ângulo de 120 graus (com margem permitida de 7 graus). É um ângulo harmonioso que indica uma fácil integração entre as energias planetárias, um dom, uma harmonia. Geralmente envolve signos do mesmo elemento.

Oposição

Um ângulo de 180 graus (margem permitida de 7 graus) , conectando em geral signos opostos. É uma tensão que envolve dois planetas que parecem caminhar um para cada lado. Em geral a lição da oposição é equilibrar as energias planetárias de acordo com o eixo-zodiacal que faz parte. Ex: Mercúrio em Gêmeos em oposição a Marte em Sagitário: essa pessoa pode aprender a dispersar menos energias nos estudos (mercúrio) desenvolvendo um pouco a busca intensa por significado do signo de sagitário. Ao mesmo tempo que pode, enquanto líder, buscar maior maleabilidade e flexibilidade (características de gêmeos).

Helena Agalenéa
Atriz, escritora, astróloga e bruxa travesti. Bacharel em Artes Cênicas pela Unicamp, pensa a arte enquanto potência de conexão com divindades e criaturas mágicas. Sacerdotisa de Inanna e de Lilith, possui afinidade com os estudos sobre ambas as deusas, astrologia, tarô e qliphoth.
helena.leelu@gmail.com