Neoxamanismo

O termo neo-Xamanismo é utilizado para designar diversas práticas atuais desenvolvidas com base nos conceitos espirituais de diferentes povos, em épocas e condições ambientais e sociais diferentes, algumas delas com traços em comum, com práticas e funções similares, e que geralmente ocupam funções de mediação entre os mundos e o povo. O termo específico “xamã” é uma palavra dos povos Tungus, na Sibéria, descrevendo a pessoa que assumia a vez de curandeiro de males físicos, mentais, emocionais e espirituais, além de poder viajar entre planos. 

Através dessas jornadas através dos planos de existência, o xamã aprende lições diretamente dos espíritos das coisas que o cercam, animais, plantas, pedras ou outros elementos. Mesmo quando existe um treinamento para a formação de um novo xamã, parte essencial do aprendizado se dá diretamente da prática pessoal e interação com o espírito e consciência que habita cada coisa, através da utilização desse estado alterado de consciência, que alguns autores, como Michael Harner, denominam de Estado Xamânico de Consciência. 

Viagem Neo-Xamânica

A viagem neo-xamânica é uma viagem geralmente conduzida em direção aos mundos inferiores, ou o mundo dos mortos, através de passagens encontradas em árvores ocas, cavernas, nascentes, poços ou outras aberturas que conduzem para baixo. É reducionista achar que tais passagens são lugares físico literais, assim como afirmar que não o são. Apesar de muitas vezes o xamã se dirigir à entradas no mundo material, locomover-se por elas apenas com o corpo físico não seria de valia alguma para o procedimento xamânico. É através da viagem que esses curandeiros acessam a causa dos males que afligem seu povo, encontrando e retirando as causas do adoecimento, ou resgatando aspectos perdidos da alma de alguém, para reconstituir sua força e poder originais. 

Aliados de Poder

Quase todo “xamã”, das mais diversas culturas e tempos, conta com o auxílio de aliados, espíritos que garantem sua segurança durante as jornadas entremundos, ou que abrem portas e acessos específicos. Tais aliados podem ser desde espíritos animais, até a consciência de plantas, pedras e instrumentos mágicos imbuídos de forças especiais e poderes ocultos, que transcendem sua forma física. 

Um item amplamente utilizado é o tambor, que através de toques repetitivos, sem alterações rítmicas, e geralmente em um ritmo rápido, promove a alteração da frequência das ondas cerebrais. Por ser um objeto utilizado para deslocar-se entre os mundos, alguns povos chamam o tambor de cavalo, ou canoa. Por sua similaridade sonora com as batidas de um coração, também é visto como o coração do xamã, seu elo com o coração da Terra, por onde transita pelos mundos inferiores e subterrâneos. Os tambores, assim como outros instrumentos musicais utilizados para promover o estado de transe costumam ser tocados apenas em ocasiões ritualísticas.

Animais de Poder

Assim como todas as outras formas de vida, os animais são vistos pelas culturas xamânicas, como irmãos, reverenciados com enorme respeito, e portadores de poderes e dons únicos. No mundo comum, cada animal possui traços e particularidades específicas de sua espécie, como a capacidade de tecer teias encontrada nas aranhas, a ampla e precisa visão da águia, o canto das baleias e o senso de coletividade dos lobos, e no mundo invisível, acessado pelos xamãs em seus transes, existem os poderes ocultos, ou as medicinas que eles trazem. 

Esses poderes ocultos são geralmente análogos, ou pelo menos relacionáveis, à sua atuação no mundo material, a visão da águia é precisa também através das dimensões e dos planos, e por isso, ela pode ser uma ótima aliada na busca de algo que esteja perdido longe da visão ordinária. A habilidade de tecelã da aranha se expressa através de sua teia, que pode ser percebida como uma capacidade de unir elementos e criar realidades complexas e interrelacionadas entre diferentes pontos, em uníssono.